"Tudo passa e tudo se renova na terra, mas o que vem do céu permanecerá." Chico Xavier
De maneira geral, a relação entre esses termos não aparece de maneira sistemática no espiritismo, ou seja, não há uma preocupação em apresentar essas noções, bem como a interdependência entre elas, a partir de uma teorização sistemática. Por serem noções muito complexas, a preocupação central de Allan Kardec e dos espíritos que trabalharam na codificação é apresentar as ideias de maneira mais livre possível; pois se o pensamento sistemático e o conceito fechado tem o mérito de tornar o mundo cognoscível, não raro, o seu abuso pode favorecer simplificações e, portanto, não captar as contradições e os movimentos da realidade. A casa da palavra, embora seja o veículo por excelência da comunicação entre os homens, pode se tornar um óbice para o entendimento da realidade, sobretudo daquelas realidades que podem ser experimentadas e compreendidas de maneira radical através de uma vivência espiritual.
É no mundo ordinário, em nossa vida de relação, que experimentamos um conjunto multifacetado de experiências, cada qual compreendendo um valor intrínseco distinto, que por sua vez, aciona ou atualiza potencialidades da alma igualmente distintas. Os sofrimentos no mundo, embora não devam ser procurados voluntariamente pelos homens, mas antes evitados, podem cumprir um importante papel, por exemplo, na sensibilização humana, na apreensão de valores como a justiça, o bem e o amor, que, em um contexto experiencial de carência, podem ser revalorizados. Ao passar por essas experiências, a consciência superficial ou egoica, não raro, não possui as ferramentas necessárias para divisar e aprender as lições importantes que se escondem por detrás de toda a experiência dolorosa. Muitos de nós já experimentamos o desamor, a injustiça e a incompreensão. E é justamente essas misérias que nos tornam mais cônscios, mas sobretudo mais sensíveis (e isso é fundamental) sobre a necessidade de incorporarmos o amor,a justiça e a compreensão à nossa própria conduta. Alguma coisa fica desalinhada em uma relação que não tem como base esses valores essenciais, e é pela falta deles que o sofrimento se desenvolve. O sofrimento se apresenta, portanto, quando a realidade desaparece ou fenece. De algum modo, a natureza encontrou meios de dizer para o homem que a não observância de valores essenciais provoca a dor, a contrariedade e o desconcerto. Se não há nenhuma base sólida que justifique a aceitação de valores morais fundamentais, se não há de fato uma objetividade para os valores, porque a sua não observância impacta- de maneira objetiva- a realidade dos homens?
Se o valor intrínseco à experiência é aprendido e sentido, algo em nós não continua como antes: há um movimento em nossa alma que nos leva a tomar posse dessa nova aquisição. O mundo ganha novos contornos, nossas lentes se ampliam e nossas relações passam a ter as cores do que existe de eterno no mundo e que, por experimentação, acaba por se eternizar em nós.
O perene está presente na transitoriedade experiencial, não como um prazer que flui ou um sentido que se aguça, mas como uma lição que se sobrepõe a fugacidade das coisas experimentadas. Somente um valor, de fato, é capaz de fazer o espírito se expandir e sair de sua temporária condição de ignorância, atualizar as sua potencialidades e, com isso, conquistar o quinhão de que todos somos herdeiros. E essa herança divina fala não tanto do prazer que se esgota na fugacidade do imediato, mas de uma felicidade encontrada na possibilidade de ser pleno a partir da descoberta e vivência dos valores permanentes, conforme elucidou o nobre Chico Xavier,