"A humildade é uma virtude bem esquecida entre vós; os grandes exemplos que vos foram dados são bem pouco seguidos e, todavia, sem a humildade, podeis ser caridosos para com o vosso próximo? oh! não, porque esse sentimento nivela os homens; diz-lhes que são irmãos, que devem se entreajudarem e os conduz ao bem. Sem a humildade vos adornais de virtudes que não tendes, como se trouxésseis um vestuário para esconder as deformidades de vosso corpo. Recordai Aquele que nos salva; recordai sua humildade que o fez tão grande,e o colocou acima de todos os profetas."
Esse pequeno trecho de uma das obras básicas da doutrina espírita, o evangelho segundo o espiritismo, propõe uma interessante reflexão a respeito dessa que é a virtude do realismo: a humildade ou a busca dela nos coloca em nossa real posição no mundo dos homens, conferindo-nos uma posição de igualdade diante dos semelhantes e de entrega a vontade de Deus.
Uma vivência espiritual (ou viver para o espírito) possibilita o encontro com partes de nós mesmos antes desconhecidas. As máscaras com que nos adornamos no mundo tendem a ceder em face do conhecimento de ser quem se é: em geral, e o que nos unifica enquanto seres humanos, pessoas frágeis do ponto de vista moral, com inúmeros defeitos e padrões comportamentais equivocados, mas com infinitas possibilidades de crescimento, em um eterno vir-a-ser, onde nossas potencialidades são constantemente atualizadas pelo trabalho das experiências e do tempo.
O realismo e a auto-aceitação de nossa condição, nem sempre tão elevada como supúnhamos, é um primeiro e vigoroso passo para o restante da caminhada espiritual. A consciência desperta e que busca se conhecer é, portanto, uma grande aliada em todo esse processo, de modo que ela pode ter a ciência do caminho a ser percorrido nesta vida, que é apresentado pelos apontamentos do eu profundo ou si mesmo: o que, de acordo com a teologia católica, possibilita ao ser o conhecimento de sua própria vocação.
Conhecer as nossas fraquezas, por fim, permite-nos desenvolver uma maior compaixão pelas fraquezas alheias, o que sem nenhuma dúvida nos aproxima do exemplo de Jesus e das lições perenes do seu Evangelho. Longe de ser uma fraqueza, a humildade é a prova mais evidente de que a alma se despojou de sua inconsciência ( no sentido de não ter ciência) e superficialidade, e já consegue tornar manifesta em grande medida a sua força interior que, afinal, é a sua verdadeira natureza. Tornar-se o que se é, em essência, é a vocação pela qual somos todos chamados por Deus, e isso conseguiremos mediante autoconhecimento, trabalho e partilha.
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