segunda-feira, 25 de julho de 2016

A candeia sob o alqueire



"Não há ninguém que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso ou a coloque sob uma cama; mas a põe sobre o candeeeiro, a fim de que aqueles que entrem vejam a luz; porque não há nada de secreto que não deva ser descoberto, nem nada de oculto que não deva ser conhecido e manifestar-se publicamente."

A luz a que a passagem bíblica se refere, também encontrada em o Evangelho Segundo o Espiritismo. é a doutrina de Jesus em sua máxima pureza. As reflexões posteriores dos espíritos superiores falam que, em um determinado grau de desenvolvimento intelecto-moral, os povos de maneira geral e os indivíduos em particular já tem condições suficientes para assimilar o conteúdo de novas revelações. Revelações essas que transcendem os meritórios esforços dos espíritos de ciência que, quando em uma busca sincera pela verdade, contribuem a seu modo com o progresso geral.
Uma forma de dar vida aos valores que representam a luz que fora revelada, colocando-a sobre o candeeiro, para utilizarmos a alegoria referida na passagem do Evangelho, é através da nossa própria vivência. Como cristãos temos uma responsabilidade muito grande com este mundo e para conosco mesmo, que é a de fazer reviver a maneira e os atos de Jesus em nossas vidas. Por mais distante que isso possa nos parecer em um primeiro momento, dada as nossas imensas limitações, devemos buscar aos poucos incorporar esses valores à nossa conduta, de modo que tornemo-nos habilitados para anunciar o Evangelho, não com palavras, nos locais onde se realizam esgrimas intelectuais, mas nos lugares onde a nossa pequena quota de amor possa se expandir, levando, com isso, esperança onde antes não havia. Encontrar e desenvolver Jesus em nós e anunciá-lo através da expansão em direção aos outros de nossas pequenas virtudes, eis a tarefa que nos cabe realizar.

sábado, 23 de julho de 2016

A vocação



Esta é uma das citações que mais aprecio quando o tema é vocação. Encontra-se no livro- "A consciência de si", do filósofo Francês Louis Lavelle, aí vai:


“Toda a infelicidade dos homens vem de que não existe nada mais difícil, para cada um deles, do que discernir seu próprio gênio. Quase todos o desconhecem, desconfiam dele, são ingratos para com ele. Empenham-se até em destruí-lo para colocar em seu lugar uma personalidade de empréstimo que lhes parece mais espetacular. Todo o segredo da potência e da alegria consiste em descobrir-se e em ser fiel a si mesmo, tanto nas menores coisas como nas maiores. Até na santidade, trata-se de realizar-se. Quem desempenha melhor o papel que é o seu, e que não pode ser desempenhado por nenhum outro, é também o mais afinado com a ordem universal: ninguém pode ser mais forte nem mais feliz. Toda a nossa responsabilidade recai, portanto, sobre o uso das potências que nos pertencem exclusivamente. Podemos deixar que se percam ou fazê-las frutificar. Assim, nossa vocação só pode ser mantida se permanecemos perpetuamente em seu nível, se nos mostramos sempre dignos dela. O papel de nossa vontade é mais modesto do que imaginamos; é apenas o de servir a nosso gênio, o de destruir diante dele os obstáculos que o freiam, o de fornecer-lhe incessantemente um novo alimento, e não o de modificar seu andamento natural nem o se imprimir-lhe uma direção escolhida por ela.
Existe em todo homem um pensamento secreto que ele deve ter a probidade e a coragem de expor à luz do dia. Não deve preferir a ele uma opinião alheia que lhe pareça mais elevada, mas que, incapaz de se alimentar em seu próprio solo, nele não crescerá. Não podemos esperar possuir outras riquezas além das que já trazemos em nós. Basta explorá-las, em vez de negligenciá-las. Mas elas são familiares demais para que nos pareçam preciosas, e corremos atrás de outros bens que brilham mais e cuja posse nos é recusada. Mesmo que pudéssemos alcançá-los, não deixariam em nossas mãos nada além de sua sombra.
No entanto, a confiança que se tem na própria vocação comporta, por sua vez, perigos. Minha vocação não está feita de antemão; cabe a mim fazê-la; preciso saber extrair de todos os possíveis que estão em mim o possível que devo ser. Também não devo confundir minha vocação com minhas preferências, embora minha preferência mais profunda deva afinar-se com minha vocação, nem o chamado de meu destino com todas as sugestões do momento, embora o momento sempre me proporcione a ocasião à qual devo responder. A sabedoria consiste em reconhecer a missão que só eu sou capaz de cumprir: pôr em seu lugar algum desígnio tomado de empréstimo é traí-la, assim como é traí-la alçar-me a pensamentos mais vastos que os que posso portar.
Ocorre com as vocações individuais, na vida da humanidade, o mesmo que ocorre com as diferentes faculdades, na vida da consciência. Cada faculdade - a inteligência, a sensibilidade ou o querer - deve exercer-se segundo sua lei própria, em sua hora e nas circunstâncias que convêm, caso contrário a consciência não conseguirá realizar sua harmonia nem sua unidade; mas, quando ela se exerce como se deve, é a alma inteira que age nela. Da mesma forma, o destino da humanidade inteira está presente na vocação de cada indivíduo, contanto que ele a aceite e a ame.”




sexta-feira, 22 de julho de 2016

A humildade


"A humildade é uma virtude bem esquecida entre vós; os grandes exemplos que vos foram dados são bem pouco seguidos e, todavia, sem a humildade, podeis ser caridosos para com o vosso próximo? oh! não, porque esse sentimento nivela os homens; diz-lhes que são irmãos, que devem se entreajudarem e os conduz ao bem. Sem a  humildade vos adornais de virtudes que não tendes, como se trouxésseis um vestuário para esconder as deformidades de vosso corpo. Recordai Aquele que nos salva; recordai sua humildade que o fez tão grande,e  o colocou acima de todos os profetas."

Esse pequeno trecho de uma das obras básicas da doutrina espírita, o evangelho segundo o espiritismo, propõe uma interessante reflexão a respeito dessa que é a virtude do realismo: a humildade ou a busca dela nos coloca em nossa real posição no mundo dos homens, conferindo-nos uma posição de igualdade diante dos semelhantes e de entrega a vontade de Deus.
Uma vivência espiritual (ou viver para o espírito) possibilita o encontro com partes de nós mesmos antes desconhecidas. As máscaras com que nos adornamos no mundo tendem a ceder em face do conhecimento de ser quem se é: em geral, e o que nos unifica enquanto seres humanos,  pessoas frágeis do ponto de vista moral, com inúmeros defeitos e padrões comportamentais equivocados, mas com infinitas possibilidades de crescimento, em um eterno vir-a-ser, onde nossas potencialidades são constantemente atualizadas pelo trabalho das experiências e do tempo.
O realismo e a auto-aceitação de nossa  condição, nem sempre tão elevada como supúnhamos, é um primeiro e vigoroso passo para o restante da caminhada espiritual. A consciência desperta e que busca se conhecer é, portanto, uma grande aliada em todo esse processo, de modo que ela pode ter a ciência do caminho a ser percorrido nesta vida, que é apresentado pelos apontamentos do eu profundo ou si mesmo: o que, de acordo com a teologia católica, possibilita ao ser o conhecimento de sua própria vocação.
Conhecer as nossas fraquezas, por fim, permite-nos desenvolver uma maior compaixão pelas fraquezas alheias, o que sem nenhuma dúvida nos aproxima do exemplo de Jesus e das lições perenes do seu Evangelho. Longe de ser uma fraqueza, a humildade é a prova mais evidente de que a alma se despojou de sua inconsciência ( no sentido de não ter ciência) e superficialidade, e já consegue tornar manifesta em grande medida a sua força interior que, afinal, é a sua verdadeira natureza. Tornar-se o que se é, em essência, é a  vocação pela qual somos todos chamados por Deus, e isso conseguiremos mediante autoconhecimento, trabalho e partilha.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Um lugar para refletir

Este é um espaço estrito para a reflexão: aqui colocaremos na casa da palavra as experiências vividas e que de algum modo acreditamos que merecem  a nossa atenção. A intuição básica- e nem tanto original assim- é a de que cada experiência humana, transitória e fugidia por sua própria natureza, revela um mundo de valores e de conhecimentos que, ao suscitar e  desenvolver nossas potencialidades intrínsecas, se conjuga a um universo de perenidade e de estruturação. A experiência humana no mundo e a possibilidade do encontro entre os homens, portanto, falam muito mais de um revelar de valores situados em um nível ontológico ou primeiro da realidade do que propriamente de uma construção mais ou menos arbitrária e próxima da fugacidade que advém da historicidade.
Uma viagem investigativa em busca de uma noção madura sobre espiritualidade depende em grande medida da própria vivência espiritual do viajor. O instrumento primeiro e mais importante em toda jornada espiritual somos nós mesmos. Importante se faz que antes de empreender qualquer busca intelectual, o viajante tenha o cuidado adequado consigo mesmo através da busca do auto-conhecimento. O auto-conhecimento nos permite entrar em contato com uma realidade transcendente e nem um pouco sujeita às vicissitudes e as constantes mudanças ocorridas na fugacidade do espaço-tempo. Essa realidade, em última análise, somos nós mesmos para além da aparência. Lá estão em potência, à espera do desabrochar conferido pelas experiências humanas, todos os valores, potencialidades e habilidades que algum dia irão se presentificar e nos acompanhar: é o nosso vir-a-ser.
A espiritualidade cristã, alguma tradições orientais e conceitos da tradição idealista da filosofia serão expostos aqui, não com o propósito de apresentar essas filosofias de modo sistemático, mas através delas e em articulação com as experiências de vida mais prosaicas, refletir sobre o lugar e a importância da espiritualidade nos dias de hoje, tanto no que se refere à  busca por um sentido perene em face das transformações aceleradas do mundo, quanto pela importância dos valores perenes para a formulação, digamos assim, de uma ciência do bem viver.